quarta-feira, 30 de junho de 2010

Música de Hoje: O vento (Marcelo Camelo)


Posso ouvir o vento passar
assistir à onda bater
mas o estrago que faz
a vida é curta pra ver...

Eu pensei
que quando eu morrer
vou acordar para o tempo
e para o tempo parar.

Um século, um mês,
três vidas e mais
um passo pra trás?
Por que será?
...vou pensar.

- Como pode alguém sonhar
o que é impossível saber?
- Não te dizer o que eu penso
já é pensar em dizer
e isso, eu vi,
o vento leva!
- Não sei mas
sinto que é como sonhar
que o esforço pra lembrar
é a vontade de esquecer...
e isso por que?
Diz mais!

Uh, se a gente já não sabe mais
rir um do outro meu bem então
o que resta é chorar e talvez,
se tem que durar,
vem renascido o amor
bento de lágrimas.
Um século, três,
se as vidas atrás
são parte de nós.

E como será?
O vento vai dizer
lento o que virá
e se chover demais
a gente vai saber,
claro de um trovão,
se alguém depois
sorrir em paz.

domingo, 13 de junho de 2010

Sobre a Música de Hoje: Negro Amor (It´s all over now, baby blue)


Versão: Caetano Veloso
Original: Bob Dylan

Vá, se mande, junte tudo que você puder levar
Ande, tudo que parece seu é bom que agarre já
Seu filho feio e louco ficou só
Chorando feito fogo à luz do sol
Os alquimistas já estão no corredor
E não tem mais nada, negro amor
A estrada pra você e o jogo e a indecência
Junte tudo que você conseguiu por coincidência
E o pintor de rua que anda só
Desenha a maluquice em seu lençol
Sob seus pés o céu também rachou
E não tem mais nada, negro amor
Seus marinheiros mareados abandonam o mar
Seus guerreiros desarmados não vão mais lutar
Seu namorado já vai dando o fora
Levando os cobertores, e agora?
Até o tapete sem você voou
E não tem mais nada, negro amor
As pedras do caminho, deixe para trás
Esqueça os mortos que eles não levantam mais
O vagabundo esmola pela rua
Vestindo a mesma roupa que foi sua
Risque outro fósforo, outra vida, outra luz, outra cor
E não tem mais nada, negro amor

Posso dizer que conheço essa música desde antes de nascer. Por volta dos meus 13 ou 14 anos, na minha hoje fria Cruz das Almas, fui a um show na Casa da Cultura da cidade, local que me traz além desta, outras doces recordações. Se apresentava alí a banda Cabaré Neopatético, e Graça Sena entoava de maneira peculiar, rasgada e deliciosa essa canção. Enchia o ambiente da antiga Casa de Detenção o cheiro perfumado do jasmim que crescia por sobre a grade que dava para o pátio e o som, àquela altura, para mim, do alto da minha adolescência, revolucionário e libertador.

Tanto a interpretação, instrumentada por Nelson Magalhães e Beto, quanto a letra da canção, me provocaram imediato arrebato. Estranhava a sensaçao de já conhecer de há muito a melodia e, inclusive, podia cantarolar alguns versos.

No dia seguinte, ainda encantada pelo que ouvira na noite anterior, cantarolava a mesma canção em casa e minha mãe observou que quando estava grávida de mim, meu pai sumiu de casa sabe-se lá Deus para onde, e que ela ouvia seguidamente a mesma canção, que traduzia seu sentimento naquele momento.

Posso sentir agora o cheiro de jasmim, ver o colorido das telas de Nelson Magalhães, ouvir todos os acordes, e lembrar da cara da minha mãe e do que senti naquele dia. Do meu pai nada, ele não faz parte dessa história.

Crônica de Um dia dos Namorados

Esse dia dos namorados que, graças a Deus, acaba de terminar trouxe consigo, para mim, algumas liçoes importantes.

Fazia já algum tempo em que nesta data eu não me encontrava sozinha assim como estou, absolutamente sozinha, sem nem um numerozinho de celular na agenda para quem mandar um SMS na madrugada depois de umas taças de vinho (quem nunca fez isso que atire o primeiro comentário). Aliás, falando nisso, um amigo espirituoso disse uma vez que celular deveria ter bafômetro, detectada a bebedeira, ele apagaria de imediato, nos impedindo de dizer ou escrever o que nao diríamos ou escreveríamos se estivéssemos sóbrios.

Bom, nesse momento de ausência de paixão, uni-me a uma amiga querida, na mesma situação que eu, e saímos pela cidade. Confesso que pensei que seria pior. Ao final, ouvimos boa música, rimos como sempre rimos juntas e eu, pessoalmente, cheguei às seguintes resoluções de dia dos namorados que, certamente, me servirão para os próximos:

1. Não me deixar enganar pelo primeiro mar de rosas de floricultura virtual que me oferecem;

2. Que embora queira muito estar com alguém, me sinto bem sozinha, ou melhor, acompanhada de pessoas que têm genuino interesse por quem sou: meus amigos, minha família;

3. Que não posso deixar de acreditar no amor verdadeiro, embora veja tanta falsidade a meu redor. Não posso por incompetência mesmo, não consigo deixar de acreditar;

4. Que estar acompanhado nem sempre significa estar feliz, que algumas pessoas apenas se acostumam e, acostumar-se, nao é para mim.

O problema é esse vício em paixao. Nao tenho formas para lutar contra ele. Tenho que então aprender a conviver com a dor que freqüentemente o acompanha.

Eu quero um amor de verdade, com pés no chao, raizes fincadas. Estou cansada de voar. Desiludir-se nao é ruim, é sair de uma ilusão. A ilusão sim, é nefasta e indesejada.

Mas ilusão é diferente de acreditar. E eu acredito. Ano que vem me comprometo a contar aqui se segui minhas resoluções. Tentarei.