quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Feliz Ano Novo!

Tinha decidido nao postar mais esse ano. O último post foi o meu post de final de ano, decidi guardar um pouco o sentimento, nao repartir com vocês. Bem egoista. Mas hoje cheguei em casa, abri sozinha uma garrafa de prosecco, um bom queijo e coloquei pra tocar o DVD de Bethania, "Tempo, tempo, tempo", no qual o centro sao canções de Vinicius. Simplesmente delicioso. Nao resisti em compartilhar a delícia borbulhante e dourada que é a poesia abaixo. Um brinde, saúde e paz a todos!

Monólogo de Orfeu
Composição: Vinicius de Moraes / Antonio Carlos Jobim

Mulher mais adorada!
Agora que não estás,
deixa que rompa o meu peito em soluços
Te enrustiste em minha vida,
e cada hora que passa
É mais por que te amar
a hora derrama o seu óleo de amor em mim, amada.

E sabes de uma coisa?
Cada vez que o sofrimento vem,
essa vontade de estar perto, se longe
ou estar mais perto se perto
Que é que eu sei?
Este sentir-se fraco,
o peito extravasado
o mel correndo,
essa incapacidade de me sentir mais eu, Orfeu;
Tudo isso que é bem capaz
de confundir o espírito de um homem.

Nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga,
esse contentamento, esse corpo
E me dizes essas coisas
que me dão essa força, esse orgulho de rei.

Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música.
Nunca fujas de mim.
Sem ti, sou nada.
Sou coisa sem razão, jogada, sou pedra rolada.
Orfeu menos Eurídice: coisa incompreensível!
A existência sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos.
Tu és a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo,
minha amiga mais querida!

Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! Criatura!
Quem poderia pensar que Orfeu,
Orfeu cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres -
que ele, Orfeu,
Ficasse assim rendido aos teus encantos?

Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho
que eu vou te seguindo no pensamento
e aqui me deixo rente quando voltares,
pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo

Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que estarei contigo.


"Tempo, tempo, tempo, tempo, és um dos deuses mais lindos".

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Música de Hoje: Baby - Caetano Veloso


Você
Precisa saber da piscina
Da margarina
Da carolina
Da gasolina

Você
Precisa saber de mim
Baby baby
Eu sei que é assim

Você
Precisa tomar um sorvete
Na lanchonete
Andar com a gente
Me ver de perto

Ouvir
Aquela canção do Roberto
Baby baby
Há quanto tempo

Você
Precisa prender inglês
Precisa aprender o que eu sei
E o que eu não sei mais
E o que eu não sei mais

Não sei
Comigo vai tudo azul
Contigo vai tudo em paz
Vivemos na melhor cidade
Da América do Sul
Da América do Sul

Você precisa
Não sei
Leia na minha camisa
Baby baby
I love you
Baby baby
I love you

***

A música que escolhi para hoje é na verdade minha homenagem e despedida de 2010. Esse que se despede foi um ano em que, para mim, não houveram grandes acontecimentos. Nem grandes perdas, nem grandes dores, nem grandes conquistas e nem imensas alegrias.
Mas não estive estacionada, inerte, entorpecida, como pode em primeira análise parecer. Tenho a sensação de que estive, posso assim chamar, em atos preparatórios para o que virá. Atos cênicos preparatórios para o grande espetáculo.
Me cuidei, cicatrizei minhas feridas. Levei dois longos anos para parar de chorar sobre elas. Hoje olho pra trás e me parece tudo muito, muito distante. Se ainda falo sobre isso acho que é para não esquecer as lições que aprendi e quero manter frescas em minha memória.
Consolidei minhas amizades, pude perceber quem são as pessoas com quem eu realmente posso contar. Fiz de tudo para estar o máximo de tempo perto dos meus amigos e de dizer sempre o quanto os amo e o quanto são importantes para mim.
Estive muito próxima da minha mãe, minha grande amiga, meu amor dos cabelos dourados, sorriso franco e olhos de esmeralda.
Estudei, me reciclei, percebi o quanto amo minha carreira e me conscientizei de que, apesar disso, não é ela quem me guia, eu sou senhora dela.
Cuidei muito do meu corpo, foi uma prioridade e hoje me olho no espelho e gosto muito do que vejo.
Ainda quero e sonho com meu comercial de margarina, mas estou tranqüila. Sei que tudo virá em seu tempo.
Aprendi que não preciso ter pressa. Aprendi que as pessoas que se foram antes mesmo de ir é porque não eram para estar a meu lado. Simples assim. As que ficaram, incondicionalmente, essas sim, me interessam muito.
Conto isso aqui como se caminhasse na praia e sentisse o vento nos cabelos. É a sensação que tenho nessa noite de lua linda e tempo quente. Sempre fui teatral, é astrológico isso em mim. A caminhada tem trilha sonora, e hoje é Baby.
Sou Karine, mas gosto que me chamem Kari, tenho 33 anos, sou advogada, baiana, soteropolitana, bonita, segura e nada modesta, gosto de poesia, tenho TPM e choro demais, tenho uma família louca como as outras, tenho amigos incríveis, vivo na melhor cidade da América do Sul e me amo pra caralho! Baby, eu sei que é assim. Essa sou eu em 2011.


sábado, 18 de dezembro de 2010

Chet Baker, Every time we say goodbye e Eu.



Sábado a noite. Ouço Chet Baker em "Every time we say goodbye" em um raro registro de sua voz doce e arrastada. Estou sozinha. Tomo vodka com sabor, gelada. Estou sozinha. Visto um vestido preto curto, ajustado ao corpo, ainda estou descalça. Os cabelos lavados, cheiro de chá. Os olhos pintados de preto, a boca vermelha. Estou sozinha.

Deitada em meu sofá, também preto, estou sozinha.

Me acompanham as memórias que me trazem essa canção, meu corpo experimenta o leve e confortável torpor da primeira dose. Lembro de um registro com a Cassia Eller, na época grávida, com um longo vestido negro, cantando "Toda vez que eu digo adeus, eu quase morro...". Outra dose de Vodka, fará bem. Estou sozinha.

O corpo deseja companhia para deitar no tapete, segurar minha mão cheia de anéis, olhar para o teto e ouvir uma e outra vez essa mesma canção. Alguém que apenas ficasse calado a meu lado, em paz. Alguém que entendesse que esse momento é tao lindo, que só escutar essa cançao é tao sublime e doce, que só deitar nesse tapete a meu lado seria suficiente para que o mundo acabasse agora mesmo. Mas não há ninguém, estou sozinha.

Daqui a pouco o telefone vai tocar. Vou a algum lugar escuro e barulhento dançar até que os primeiros raios de sol façam a música parar. Ali olhos famintos e vazios se encontrarão com os meus, pintados de preto. Palavras vazias serão trocadas. Nada ficará. Estarei sozinha.

No início da manhã, olhos cansados, voltarei ao meu sofá. Estarei sozinha, gozando da solidão desses dias. Acho que pedirei a Chet que cante mais um pouco, me fazendo companhia até que eu possa dormir.

Que bom poder escrever.


1. Aquele Frevo Axe - Gal Costa

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Música de hoje: Aquele Frevo Axé (Caetano Veloso)


Que fazer?
Meu pensamento está preso àquele carnaval
Volto a pisar este chão
Enceno um drama banal
Tento refazer a trama
Mas o desfecho é igual
E você?
Será que canta calada aquele frevo axé
Que não me deixa dormir
Ou terá perdido a fé
No que ficou prometido
Sem nos falarmos sequer
Meu amor
Ando na praça vazia e espero o sol se por
Vejo o clarão se extinguir
Por trás da mão do poeta
Nosso amor não vai sumir
Veja onde a gente se achou
Estrelas já vão luzir
Na noite da baía preta
Queria tanto você aqui
Que fazer?...

***

Essa música deu origem ao nome desse Blog. É engraçado, mas eu nunca havia comentado sobre ela. Decidi criar um Blog, como já disse aqui,por inspiração de Tarcísio, o Buenas do Blog On The Rocks. Quando estava amadurecendo a idéia de escrever, fui a o show do Caetano Veloso, lá onde fui criada, no Recôncavo, e ele cantou essa canção. Fiquei muito emocionada na época e por dias ela não me saiu da cabeça, terminando por vir parar aí em cima, no nome do Blog.
Hoje a noite ela, a canção, voltou à minha cabeça. Mas... que fazer?

***



quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Aurora


É como amanhecer.
Os traços em cor de rosa,
tons de azul e dourado colorindo a aurora.
É como sair do corpo e ver de fora e,
ao mesmo tempo,
ser só corpo como agora.
Só arrepio, espasmos, sensação de frio e calor, dor.
Só pele.
É assim. Deve ser assim, o amor.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Sem Anunciação

E de repente,
sem sequer anunciação,
a angústia virou sangue.
Graças a Deus.
Graças a Eva,
que comeu a maçã
e forçou a lembrança.
Mais uma vez a maçã.
Pecado e castigo. Alívio.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A barriga e a solidão.

"Não quero o que a cabeça pensa, quero o que a alma deseja. Arco iris, anjo rebelde, eu quero corpo, tenho pressa de viver. Mas quando você me amar, me abrace e me beije bem devagar, que é para eu ter tempo, tempo de me apaixonar... Tempo para ouvir o rádio do carro, e de saber que eu te amo... Meu bem, talvez você possa compreender a minha solidão, o meu sonho e a minha fúria e essa pressa de viver, esse jeito de deixar sempre de lado a certeza, e arriscar tudo de novo com paixão, andar caminho errado pela simples alegria de ser... Meu bem, vem morar comigo, vem viver comigo, vem correr perigo... Meu bem..."(Coração Selvagem - Belchior)

Veio essa música hoje em prosa. Homenagem ao post lindo que li no Blog de Rai (http://deusamenina-posts.blogspot.com/2010/11/para-quando-voce-me-amar.html), minha prima mais doce. Me emocionou.
Hoje é uma dia definitivamente emotivo. Estou confusa, sozinha, me dói o estômago e sinto falta de alguém que me traga uma maçã e me faça um carinho nos cabelos, na barriga.
Ah, por falar em barriga... Hoje também voltou o sonho. Ver a barriga crescer, nascer um bebê. Aquele que vai brincar comigo no jardim, com nosso cachorro e meu amor.
E o amor? Porque precisa ser tão complicado? Se é só de uma maçã, um carinho nos cabelos e um filho o que eu preciso.
Hoje tenho pressa... Ansiedade em ser feliz. Não quero esperar mais.