quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Feliz Ano Novo!

Tinha decidido nao postar mais esse ano. O último post foi o meu post de final de ano, decidi guardar um pouco o sentimento, nao repartir com vocês. Bem egoista. Mas hoje cheguei em casa, abri sozinha uma garrafa de prosecco, um bom queijo e coloquei pra tocar o DVD de Bethania, "Tempo, tempo, tempo", no qual o centro sao canções de Vinicius. Simplesmente delicioso. Nao resisti em compartilhar a delícia borbulhante e dourada que é a poesia abaixo. Um brinde, saúde e paz a todos!

Monólogo de Orfeu
Composição: Vinicius de Moraes / Antonio Carlos Jobim

Mulher mais adorada!
Agora que não estás,
deixa que rompa o meu peito em soluços
Te enrustiste em minha vida,
e cada hora que passa
É mais por que te amar
a hora derrama o seu óleo de amor em mim, amada.

E sabes de uma coisa?
Cada vez que o sofrimento vem,
essa vontade de estar perto, se longe
ou estar mais perto se perto
Que é que eu sei?
Este sentir-se fraco,
o peito extravasado
o mel correndo,
essa incapacidade de me sentir mais eu, Orfeu;
Tudo isso que é bem capaz
de confundir o espírito de um homem.

Nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga,
esse contentamento, esse corpo
E me dizes essas coisas
que me dão essa força, esse orgulho de rei.

Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música.
Nunca fujas de mim.
Sem ti, sou nada.
Sou coisa sem razão, jogada, sou pedra rolada.
Orfeu menos Eurídice: coisa incompreensível!
A existência sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos.
Tu és a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo,
minha amiga mais querida!

Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! Criatura!
Quem poderia pensar que Orfeu,
Orfeu cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres -
que ele, Orfeu,
Ficasse assim rendido aos teus encantos?

Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho
que eu vou te seguindo no pensamento
e aqui me deixo rente quando voltares,
pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo

Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que estarei contigo.


"Tempo, tempo, tempo, tempo, és um dos deuses mais lindos".

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Música de Hoje: Baby - Caetano Veloso


Você
Precisa saber da piscina
Da margarina
Da carolina
Da gasolina

Você
Precisa saber de mim
Baby baby
Eu sei que é assim

Você
Precisa tomar um sorvete
Na lanchonete
Andar com a gente
Me ver de perto

Ouvir
Aquela canção do Roberto
Baby baby
Há quanto tempo

Você
Precisa prender inglês
Precisa aprender o que eu sei
E o que eu não sei mais
E o que eu não sei mais

Não sei
Comigo vai tudo azul
Contigo vai tudo em paz
Vivemos na melhor cidade
Da América do Sul
Da América do Sul

Você precisa
Não sei
Leia na minha camisa
Baby baby
I love you
Baby baby
I love you

***

A música que escolhi para hoje é na verdade minha homenagem e despedida de 2010. Esse que se despede foi um ano em que, para mim, não houveram grandes acontecimentos. Nem grandes perdas, nem grandes dores, nem grandes conquistas e nem imensas alegrias.
Mas não estive estacionada, inerte, entorpecida, como pode em primeira análise parecer. Tenho a sensação de que estive, posso assim chamar, em atos preparatórios para o que virá. Atos cênicos preparatórios para o grande espetáculo.
Me cuidei, cicatrizei minhas feridas. Levei dois longos anos para parar de chorar sobre elas. Hoje olho pra trás e me parece tudo muito, muito distante. Se ainda falo sobre isso acho que é para não esquecer as lições que aprendi e quero manter frescas em minha memória.
Consolidei minhas amizades, pude perceber quem são as pessoas com quem eu realmente posso contar. Fiz de tudo para estar o máximo de tempo perto dos meus amigos e de dizer sempre o quanto os amo e o quanto são importantes para mim.
Estive muito próxima da minha mãe, minha grande amiga, meu amor dos cabelos dourados, sorriso franco e olhos de esmeralda.
Estudei, me reciclei, percebi o quanto amo minha carreira e me conscientizei de que, apesar disso, não é ela quem me guia, eu sou senhora dela.
Cuidei muito do meu corpo, foi uma prioridade e hoje me olho no espelho e gosto muito do que vejo.
Ainda quero e sonho com meu comercial de margarina, mas estou tranqüila. Sei que tudo virá em seu tempo.
Aprendi que não preciso ter pressa. Aprendi que as pessoas que se foram antes mesmo de ir é porque não eram para estar a meu lado. Simples assim. As que ficaram, incondicionalmente, essas sim, me interessam muito.
Conto isso aqui como se caminhasse na praia e sentisse o vento nos cabelos. É a sensação que tenho nessa noite de lua linda e tempo quente. Sempre fui teatral, é astrológico isso em mim. A caminhada tem trilha sonora, e hoje é Baby.
Sou Karine, mas gosto que me chamem Kari, tenho 33 anos, sou advogada, baiana, soteropolitana, bonita, segura e nada modesta, gosto de poesia, tenho TPM e choro demais, tenho uma família louca como as outras, tenho amigos incríveis, vivo na melhor cidade da América do Sul e me amo pra caralho! Baby, eu sei que é assim. Essa sou eu em 2011.


sábado, 18 de dezembro de 2010

Chet Baker, Every time we say goodbye e Eu.



Sábado a noite. Ouço Chet Baker em "Every time we say goodbye" em um raro registro de sua voz doce e arrastada. Estou sozinha. Tomo vodka com sabor, gelada. Estou sozinha. Visto um vestido preto curto, ajustado ao corpo, ainda estou descalça. Os cabelos lavados, cheiro de chá. Os olhos pintados de preto, a boca vermelha. Estou sozinha.

Deitada em meu sofá, também preto, estou sozinha.

Me acompanham as memórias que me trazem essa canção, meu corpo experimenta o leve e confortável torpor da primeira dose. Lembro de um registro com a Cassia Eller, na época grávida, com um longo vestido negro, cantando "Toda vez que eu digo adeus, eu quase morro...". Outra dose de Vodka, fará bem. Estou sozinha.

O corpo deseja companhia para deitar no tapete, segurar minha mão cheia de anéis, olhar para o teto e ouvir uma e outra vez essa mesma canção. Alguém que apenas ficasse calado a meu lado, em paz. Alguém que entendesse que esse momento é tao lindo, que só escutar essa cançao é tao sublime e doce, que só deitar nesse tapete a meu lado seria suficiente para que o mundo acabasse agora mesmo. Mas não há ninguém, estou sozinha.

Daqui a pouco o telefone vai tocar. Vou a algum lugar escuro e barulhento dançar até que os primeiros raios de sol façam a música parar. Ali olhos famintos e vazios se encontrarão com os meus, pintados de preto. Palavras vazias serão trocadas. Nada ficará. Estarei sozinha.

No início da manhã, olhos cansados, voltarei ao meu sofá. Estarei sozinha, gozando da solidão desses dias. Acho que pedirei a Chet que cante mais um pouco, me fazendo companhia até que eu possa dormir.

Que bom poder escrever.


1. Aquele Frevo Axe - Gal Costa

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Música de hoje: Aquele Frevo Axé (Caetano Veloso)


Que fazer?
Meu pensamento está preso àquele carnaval
Volto a pisar este chão
Enceno um drama banal
Tento refazer a trama
Mas o desfecho é igual
E você?
Será que canta calada aquele frevo axé
Que não me deixa dormir
Ou terá perdido a fé
No que ficou prometido
Sem nos falarmos sequer
Meu amor
Ando na praça vazia e espero o sol se por
Vejo o clarão se extinguir
Por trás da mão do poeta
Nosso amor não vai sumir
Veja onde a gente se achou
Estrelas já vão luzir
Na noite da baía preta
Queria tanto você aqui
Que fazer?...

***

Essa música deu origem ao nome desse Blog. É engraçado, mas eu nunca havia comentado sobre ela. Decidi criar um Blog, como já disse aqui,por inspiração de Tarcísio, o Buenas do Blog On The Rocks. Quando estava amadurecendo a idéia de escrever, fui a o show do Caetano Veloso, lá onde fui criada, no Recôncavo, e ele cantou essa canção. Fiquei muito emocionada na época e por dias ela não me saiu da cabeça, terminando por vir parar aí em cima, no nome do Blog.
Hoje a noite ela, a canção, voltou à minha cabeça. Mas... que fazer?

***



quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Aurora


É como amanhecer.
Os traços em cor de rosa,
tons de azul e dourado colorindo a aurora.
É como sair do corpo e ver de fora e,
ao mesmo tempo,
ser só corpo como agora.
Só arrepio, espasmos, sensação de frio e calor, dor.
Só pele.
É assim. Deve ser assim, o amor.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Sem Anunciação

E de repente,
sem sequer anunciação,
a angústia virou sangue.
Graças a Deus.
Graças a Eva,
que comeu a maçã
e forçou a lembrança.
Mais uma vez a maçã.
Pecado e castigo. Alívio.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A barriga e a solidão.

"Não quero o que a cabeça pensa, quero o que a alma deseja. Arco iris, anjo rebelde, eu quero corpo, tenho pressa de viver. Mas quando você me amar, me abrace e me beije bem devagar, que é para eu ter tempo, tempo de me apaixonar... Tempo para ouvir o rádio do carro, e de saber que eu te amo... Meu bem, talvez você possa compreender a minha solidão, o meu sonho e a minha fúria e essa pressa de viver, esse jeito de deixar sempre de lado a certeza, e arriscar tudo de novo com paixão, andar caminho errado pela simples alegria de ser... Meu bem, vem morar comigo, vem viver comigo, vem correr perigo... Meu bem..."(Coração Selvagem - Belchior)

Veio essa música hoje em prosa. Homenagem ao post lindo que li no Blog de Rai (http://deusamenina-posts.blogspot.com/2010/11/para-quando-voce-me-amar.html), minha prima mais doce. Me emocionou.
Hoje é uma dia definitivamente emotivo. Estou confusa, sozinha, me dói o estômago e sinto falta de alguém que me traga uma maçã e me faça um carinho nos cabelos, na barriga.
Ah, por falar em barriga... Hoje também voltou o sonho. Ver a barriga crescer, nascer um bebê. Aquele que vai brincar comigo no jardim, com nosso cachorro e meu amor.
E o amor? Porque precisa ser tão complicado? Se é só de uma maçã, um carinho nos cabelos e um filho o que eu preciso.
Hoje tenho pressa... Ansiedade em ser feliz. Não quero esperar mais.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Música de Hoje: Chico Buarque - Todo o Sentimento - Paris

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar e urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu

Depois de te perder
Te encontro com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu






sábado, 11 de setembro de 2010

Clarice Lispector num sábado a noite - Furacão e Calmaria


Desocupada e sem programa para uma fria e desagradável noite de sábado abri, como em outras tantas noites solitárias, meu twitter, e dei de cara com Clarice. Sempre ela, mesmo em 146 caracteres, abrindo as feridas da minha alma.

A frase dizia:

O medo me leva ao perigo. E tudo que eu amo é arriscado.

Abriu-se a primeira ferida. Era o que eu temia. Não queria mesmo prolongar esse sábado a noite em nada mais que novela das nove falada em italiano macarrônico e uma noite de sono difícil em virtude da gripe que me tem o peito congestionado.

Segui lendo, e veio o golpe fatal, já não podia voltar atrás. Li o que vinha pensando durante os últimos dias. E era tudo tao simples, que me senti tola, tonta. Tonta e com a vaidade ferida. Se não fui eu quem pensou antes, não era privilégio meu a aflição. Falar ou não falar? É sentimento comum, ordinário, tanto quanto pode ser ordinário algo vindo do coraçao de Clarice. Dizia:

"Por te falar eu te assustarei e te perderei? Mas se eu nunca falar eu me perderei, e por me perder eu te perderia." Excerto tirado de A Paixão Segundo GH, um dos meus favoritos.

Era só isso que precisava ser dito, e eu não soube dizer antes. Precisava ser dito por mim para mim. Em alta voz, para que eu sem dúvida escutasse.

Tenho muitas vezes medo da intensidade dos meus sentimentos. Não temo por mim, sou bastante kamikaze nesse aspecto. Mas sim pelo outro, que quase sempre, compreensivelmente, se assusta.

O comedimento é infinitamente mais confortável... Comedimento é brisa leve. Meu sentimento quase sempre é tempestade e muitas vezes furacão. Eu sei antes, me seguro. O outro, pego de surpresa, grita e corre.

Lembrei agora de um desenho animado da Disney... Havia um grande furacão, o pateta, o mickey, o pluto, casas, árvores, vacas e pessoas voando, e música clássica... Acho que nao se fazem mais desenhos com música clássica ao fundo.

O medo de falar é o medo de ouvir e o que sair da boca ser não. É o medo de assustar. O medo de que o outro grite e corra, ao som de música clássica, as vacas voando e o furacão.

Mas se não falo, deixo de ser eu para ser apenas uma peça de um jogo. E eu nao sei jogar. Deixaria de existir e aí sim o outro não me amaria.

O problema está em outra poesia, musicada, "eu não sei dançar tão devagar pra te acompanhar".

Resta acreditar que encontraremos, um dia, um só ritmo. Que ao sentir a proximidade do furacão o outro se abrigue calmamente a meu lado e de maos dadas apreciemos juntos o espetáculo, para gozar, ao final, da calmaria.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

domingo, 1 de agosto de 2010

Música de Hoje: Aquela Estrela (Vander Lee)

(Essa é para o meu bebê, que virou estrela e hoje tive certeza, me olha de onde está. Não existem coincidências.)

Aquele jeito que você me olhou
Varreu meu pensamento
Todas as coisas saíram do chão
Eu me esqueci de tudo
Antes que eu me desse conta
Já era seu meu querer

Foi como o sol que desponta
Numa montanha dourada
Na terra do faz de conta
Pra me banhar de prazer

Mas o vazio (essa carta) que você deixou
No meu apartamento
Quase transbordou meu coração
Meu mundo ficou mudo
Você foi pra tão distante
E eu quero tanto te ver

Por isso não se espante
Se numa noite bela
Aquela estrela brilhante
Em sua janela bater

sexta-feira, 30 de julho de 2010

O que é que eu faço?


Sempre me emocionou olhar aquelas duas fotografias dela. Ficavam guardadas numa caixa, junto com outras coisinhas. Era do tempo em que ainda revelávamos as fotografias e guardávamos em caixinhas ou em álbuns, ao invés de arquivos digitais.

Me emocionava vê-la tão pequenininha, a luz do sol refletindo no pelinho arrepiado, a carinha de sapeca. Tao pequenininha que cabia na sombra de um vaso do qual pendia uma orquídea lilás.

Só abri aquela caixinha, a das fotos, em momentos cruciais. Ou quando eventualmente mudava de casa ou, ultimamente, num momento de muita dor, no qual, inafastavelmente ela esteve a meu lado, me olhando com aquela carinha expressiva, que dizia tudo sem dizer nada.

Essa noite ela dormiu como sempre em sua caminha, ao lado da minha. O olhinho expressivo sempre me acompanhando. Eu estava carente, a abracei um monte, brinquei com ela, ri porque sempre andava atrás de mim para onde eu fosse, ri porque passou a tarde vigiando um biscoito que nao queria comer mas também nao queria deixar para o outro.

Durante os últimos oito anos, por muitas vezes, pensei que não suportaria as perdas que tive sem ela. Sem a carinha dela me olhando quando perdi o bebê. Sem a companhia serelepe quando fui viver em um país estranho. Sem vê-la sentada em frente à porta, como eu, esperando por alguém que nunca viria.

Hoje ela me deixou... Sem fazer alarde. Acordou cansadinha, a peguei no colo... Me olhou com aquele olhinho pretinho como se me perguntasse o que estava acontecendo. Acho que me esperou chegar para ir de vez, meu filhotinho estava velhinho e cansado. Só pude dizer: o que é que eu faço?

Ainda não sei, porque desde que ela me escolheu, só soube suportar a dor com sua ajuda. E agora, o que é que eu faço?

Minha memória para minha bonequinha será sempre de gratidão e de amor. Teria sido tudo muito mais difícil sem ela, como a partir de agora será.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Música de Hoje: Vidas Inteiras - Adriana Calcanhoto

Não seja por isso
Eu não tenho pressa
Eu posso esperar vidas inteiras
Mas tenha certeza de que lhe interessa
Deixar escapar o ouro do agora
Para que não seja numa tarde dessas
Tarde demais...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Certa Manha Acordei De Sonhos Intranqüilos - Sentimentos sobre o novo CD de Otto

Foi inevitável pra mim desejar escrever depois de ouvir seguidamente quatro vezes esta manha o CD do pernambucano Otto.
Faz algum tempo algo novo nao me agradava e emocionava tanto na música brasileira. N
ã
o tenho aqui nenhuma pretens
ã
o de fazer uma crítica ao CD e suas faixas. Conta apenas o meu sentimento e a decis
ã
o que tomei depois da quarta audiç
ã
o.
Já começa pelo nome do CD, toma emprestado primeira frase do livro A Metamorfose de Kafka.
A primeira faixa, Crua, é a traduç
ã
o da decepç
ã
o, do fim, há sempre um lado que pesa e outro lado que flutua e continua cruamente a descrever a solidão do fim quando dificilmente se arranca a lembrança de que naquela noite que eu chamei você fudia de noite e de dia, da traiçao, melancólica. Saí cortada, fatiada pelas cordas da introduç
ã
o, rasgada, sangrando.
Na faixa seguinte, Leite, na companhia deliciosa da voz de Céu, a certeza em lamento de que n
ã
o poderia ter dado certo quando diz: quando eu perdi você ganhei a aposta. E outra vez a desilus
ã
o quando num dia assim calado você me mostrou a vida e agora vem dizer pra mim que é despedida. E traduz ainda perfeitamente o sentimento daquele que foi deixado acreditando deixar, quando eu sai da tua vida bati a porta, sai morrendo de medo do desejo de ficar. Fui embora porque era a única coisa digna a se fazer, embora quisesse imensamente ficar.
A quinta faixa, 6 minutos, minha música do dia, traz mais desilusão e luto, com as flores crescendo no canto do quarto escuro, flores de um longo inverno. A tristeza dos sonhos n
ã
o realizados... Isso é pra morrer. Mas como você pode ter ido embora se você me falou de uma casa pequena com uma varanda chamando as crianças pra jantar. Isso é pra viver. Esse trecho, especificamente, me tocou fundo... Só faltou o cachorro correndo no jardim, meu ideal de felicidade.
Na frente do cortejo o meu beijo (...) lágrimas negras saem, caem, doem. Inicia Lágrimas Negras, com Julieta Venegas cantando em português. Sensível, o cortejo de despedida do amor, tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento. E a tristeza de Otto nos rendeu a beleza dessa canç
ã
o, beleza acesa, a flor da pele.
Filha, é outra bela canç
ã
o. Triste e emocionante como as demais. Aqui há paz e alegria, antes que você perceba que n
ã
o deu nao deu n
ã
o deu (...) Aqui é festa amor, e a tristeza em minha vida.
Na verdade, você nuca existiu, nunca passou de uma ilusão. E até pra morrer, você tem que existir. E se não existia, decisão incontestável que tomo, acabou-se o luto. Queimarei hoje os vestidos negros, os véus de viuva. É mais que hora de roupas coloridas, de alegria, das flores que vir
ã
o das maos de um novo amor e não nascerão como limo no canto de um quarto escuro.
Pode chegar meu novo amor, estou te esperando. Arrumei a casa, abri todas as janelas e mandei embora a tristeza que morava comigo. Está tudo pronto, na última faixa Agora Sim
, o amor vai me encontrar, vou te levar na praça um dia vai chover muita paz e esmeraldas em cima de você.
Quem disse que o amor n
ã
o vai? Imagem lúdica, passada em preto e branco em minha cabeça.
Enfim, obrigada Otto, pela bela obra. Espero que você, como eu, também possa abandonar o luto e deixar o amor entrar.

Música de Hoje: 6 minutos - Otto



Não precisa falar
Nem saber de mim
E até pra morrer
Você tem que existir

Não precisa falar
Nem saber de mim
E até pra morrer
Você tem que existir

Nasceram flores num canto de um quarto escuro
Mas eu te juro, são flores de um longo inverno
Nasceram flores num canto de um quarto escuro
Mas eu te juro, são flores de um longo inverno

Isso é pra morrer
6 minutos
Instantes acabam a eternidade
Isso é pra viver
Momentos únicos
Bem junto na cama de um quarto de hotel

E você me falou de uma casa pequena
Com uma varanda, chamando as crianças pra jantar

Isso é pra viver
Momentos únicos
Bem junto na cama de um quarto de hotel

D'um quarto de hotel
Num quarto de hotel

Não precisa falar
Nem saber de mim
E até pra morrer
Você tem que existir

Nasceram flores num canto de um quarto escuro
Mas eu te juro, são flores de um longo inverno
Nasceram flores num canto de um quarto escuro
Mas eu te juro meu amor, são flores de um longo inverno

Isso é pra morrer

Você me falou
E eu estava lá e falei

Isso é pra morrer
6 minutos
Instantes acabam a eternidade
Isso é pra viver
Momentos únicos
Bem junto na cama de um quarto de hotel

E você me falou de uma casa pequena
Com uma varanda, chamando as crianças pra jantar

Isso é pra morrer
6 minutos
Instantes acabam a eternidade
Isso é pra viver
Momentos únicos
Bem junto na cama de um quarto de hotel

E você me falou
Num quarto de hotel
Num quarto de hotel


quarta-feira, 30 de junho de 2010

Música de Hoje: O vento (Marcelo Camelo)


Posso ouvir o vento passar
assistir à onda bater
mas o estrago que faz
a vida é curta pra ver...

Eu pensei
que quando eu morrer
vou acordar para o tempo
e para o tempo parar.

Um século, um mês,
três vidas e mais
um passo pra trás?
Por que será?
...vou pensar.

- Como pode alguém sonhar
o que é impossível saber?
- Não te dizer o que eu penso
já é pensar em dizer
e isso, eu vi,
o vento leva!
- Não sei mas
sinto que é como sonhar
que o esforço pra lembrar
é a vontade de esquecer...
e isso por que?
Diz mais!

Uh, se a gente já não sabe mais
rir um do outro meu bem então
o que resta é chorar e talvez,
se tem que durar,
vem renascido o amor
bento de lágrimas.
Um século, três,
se as vidas atrás
são parte de nós.

E como será?
O vento vai dizer
lento o que virá
e se chover demais
a gente vai saber,
claro de um trovão,
se alguém depois
sorrir em paz.

domingo, 13 de junho de 2010

Sobre a Música de Hoje: Negro Amor (It´s all over now, baby blue)


Versão: Caetano Veloso
Original: Bob Dylan

Vá, se mande, junte tudo que você puder levar
Ande, tudo que parece seu é bom que agarre já
Seu filho feio e louco ficou só
Chorando feito fogo à luz do sol
Os alquimistas já estão no corredor
E não tem mais nada, negro amor
A estrada pra você e o jogo e a indecência
Junte tudo que você conseguiu por coincidência
E o pintor de rua que anda só
Desenha a maluquice em seu lençol
Sob seus pés o céu também rachou
E não tem mais nada, negro amor
Seus marinheiros mareados abandonam o mar
Seus guerreiros desarmados não vão mais lutar
Seu namorado já vai dando o fora
Levando os cobertores, e agora?
Até o tapete sem você voou
E não tem mais nada, negro amor
As pedras do caminho, deixe para trás
Esqueça os mortos que eles não levantam mais
O vagabundo esmola pela rua
Vestindo a mesma roupa que foi sua
Risque outro fósforo, outra vida, outra luz, outra cor
E não tem mais nada, negro amor

Posso dizer que conheço essa música desde antes de nascer. Por volta dos meus 13 ou 14 anos, na minha hoje fria Cruz das Almas, fui a um show na Casa da Cultura da cidade, local que me traz além desta, outras doces recordações. Se apresentava alí a banda Cabaré Neopatético, e Graça Sena entoava de maneira peculiar, rasgada e deliciosa essa canção. Enchia o ambiente da antiga Casa de Detenção o cheiro perfumado do jasmim que crescia por sobre a grade que dava para o pátio e o som, àquela altura, para mim, do alto da minha adolescência, revolucionário e libertador.

Tanto a interpretação, instrumentada por Nelson Magalhães e Beto, quanto a letra da canção, me provocaram imediato arrebato. Estranhava a sensaçao de já conhecer de há muito a melodia e, inclusive, podia cantarolar alguns versos.

No dia seguinte, ainda encantada pelo que ouvira na noite anterior, cantarolava a mesma canção em casa e minha mãe observou que quando estava grávida de mim, meu pai sumiu de casa sabe-se lá Deus para onde, e que ela ouvia seguidamente a mesma canção, que traduzia seu sentimento naquele momento.

Posso sentir agora o cheiro de jasmim, ver o colorido das telas de Nelson Magalhães, ouvir todos os acordes, e lembrar da cara da minha mãe e do que senti naquele dia. Do meu pai nada, ele não faz parte dessa história.

Crônica de Um dia dos Namorados

Esse dia dos namorados que, graças a Deus, acaba de terminar trouxe consigo, para mim, algumas liçoes importantes.

Fazia já algum tempo em que nesta data eu não me encontrava sozinha assim como estou, absolutamente sozinha, sem nem um numerozinho de celular na agenda para quem mandar um SMS na madrugada depois de umas taças de vinho (quem nunca fez isso que atire o primeiro comentário). Aliás, falando nisso, um amigo espirituoso disse uma vez que celular deveria ter bafômetro, detectada a bebedeira, ele apagaria de imediato, nos impedindo de dizer ou escrever o que nao diríamos ou escreveríamos se estivéssemos sóbrios.

Bom, nesse momento de ausência de paixão, uni-me a uma amiga querida, na mesma situação que eu, e saímos pela cidade. Confesso que pensei que seria pior. Ao final, ouvimos boa música, rimos como sempre rimos juntas e eu, pessoalmente, cheguei às seguintes resoluções de dia dos namorados que, certamente, me servirão para os próximos:

1. Não me deixar enganar pelo primeiro mar de rosas de floricultura virtual que me oferecem;

2. Que embora queira muito estar com alguém, me sinto bem sozinha, ou melhor, acompanhada de pessoas que têm genuino interesse por quem sou: meus amigos, minha família;

3. Que não posso deixar de acreditar no amor verdadeiro, embora veja tanta falsidade a meu redor. Não posso por incompetência mesmo, não consigo deixar de acreditar;

4. Que estar acompanhado nem sempre significa estar feliz, que algumas pessoas apenas se acostumam e, acostumar-se, nao é para mim.

O problema é esse vício em paixao. Nao tenho formas para lutar contra ele. Tenho que então aprender a conviver com a dor que freqüentemente o acompanha.

Eu quero um amor de verdade, com pés no chao, raizes fincadas. Estou cansada de voar. Desiludir-se nao é ruim, é sair de uma ilusão. A ilusão sim, é nefasta e indesejada.

Mas ilusão é diferente de acreditar. E eu acredito. Ano que vem me comprometo a contar aqui se segui minhas resoluções. Tentarei.



sexta-feira, 14 de maio de 2010

NINA SIMONE: Just Like a Woman

Das dores do oratório - Just Like a Woman (Bob Dylan)

Estive pensando... Mais uma vez ouvindo Nina arranhar, acariciar, sedar os meus ouvidos... Hoje esta mulher nao tem nada que chegue nem perto a um amor... Faz tanta falta.
Me alimento, me nutro, me hidrato de amor... E hoje nao tenho nada.
Claro, nao me faltam amigos, família. Nestas últimas semanas foram muitas as demonstrações de amor genuíno. Amor fraterno, amor maternal.... Ambos genuínos, confortáveis...
Mas nao se trata disso.
Quero amar até rasgar o peito, até doer. Ver a novela das seis e chorar de emoção. Ouvir Nina como agora e tremular, embargar a voz. Buraco no estômago. Pernas bambas. Falta de ar. Quase morte em vida.
"Ora! - direis - ouvir estrelas! Certo perdeste o senso" e eu vos direi, "nem tanto".
Quero ouvir estrelas... Todos os sinos de todas as catedrais. Ensurdecer.
Se nao for assim, "no, thanks".
Ficarei assim, vazia... Limpando o espaço, faxinando os cantinhos, perfumando o ambiente. Até que o amor resolva chegar e entrar... Quero que ele se sinta confortável, em casa, e queira ficar pra sempre.
Ah... Mulher sem razão, de quantos amores se fará tua casa? De quantas desilusões se esvaziará teu salao? Quantas vezes encerarás o chao emporcalhado de desamores, esperando receber a visita que tanto esperas? Porque sem razão esperarás para sempre, louca, "das dores do oratório", aprisionada na necessidade de amar. E em tua cadeia, em tua casa, em tua cama, ainda que de passagem, ele sempre entrará. Mantendo acesa a lembrança... Mantendo aceso o desejo de que, uma dia, mesmo que perto de a luz se apagar, ele venha pra ficar.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Música de Hoje: Existem Coisas Na Vida: Itamar Assumpção e Alzira Espindola


Existem coisas na vida
das quais até Deus duvida
tem beijos de boas vindas
tem beijos de despedida
tem choro, côro, decôro,
entrada não tem saída,

tem fórum,
falta de quorum
tem um toque de midas
tem quem apronte um salseiro
tem gente muito querida
tem cara de pau de monte
morte por uma dívida
tanta coisa pra ontem

Existem coisas na vida
das quais até Deus duvida
tem quem nao tenha guarida
nas vielas e avenidas
tem olho da rua,becos,
tem ouro de tolo,touro,
tem vaca e mulher parida
tem gente que é só sucesso
como tem gente falida
tem gente que nao tem berço,
bandido, gente excluida
tem gente muito valente
tem gente só suicida
e por ter gente demente
tem gente que é prevenida
tem coisa que segue em frente
tem coisa já falecida

Existem coisas na vida
das quais até Deus duvida
É o diabo a quatro querida

Existem coisas na vida
das quais até Deus duvida
É o diabo a quatro querida...

sábado, 1 de maio de 2010

Música de Hoje: El Lado Oscuro - Jarabe de Palo

Puede que hayas
nacido en la cara buena del mundo
yo nací en la cara mala
llevo la marca del lado oscuro
y no me sonrojo si te digo que te quiero
y que me dejes o te deje
eso ya no me da miedo
habías sido sin dudarlo la más bella
de entre todas las estrellas
que yo vi en el firmamento

¿Cómo ganarse el cielo
cuando uno ama con toda el alma?
Y es que el cariño que te tengo
no se paga con dinero
habías sido sin dudarlo la más bella
de entre todas las estrellas
que yo vi en el firmamento

Puede que hayas
nacido en la cara buena del mundo
yo nací en la cara mala
llevo la marca del lado oscuro
y no me sonrojo si te digo que te quiero
y que me dejes o te deje
eso ya no me da miedo
habías sido, sin dudarlo, la más bella
de entre todas las estrellas
que yo vi en el firmamento
no me sonrojo si te digo que te quiero
si te digo que te quiero

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Amor, apaga a luz quando sair...


Ei, não sai sem me dar um beijo...

Você sabe que eu fico carente toda vez que está perto de você ir embora. Conversa um pouquinho mais comigo, senão nao vou conseguir dormir.

Te disse "eu te amo hoje", como quem passa... Foi engraçado, tipo menina que quer dizer à mãe que engravidou... Tipo, "mãe, hoje fui à padaria e encontrei a tia Maria, ela estava meio adoentada, estou grávida, mas acho que não era nada sério." Nao sei nem se você notou, ou se meio atordoado preferiu não notar. Não importa, eu não disse para ouvir resposta.

Sabe quando me perguntou se tenho ciúmes de você? Tenho, demais. Acho que quem ama, mesmo esse amor meio louco e carnal que eu tenho por você, tem ciúmes. E, na verdade, te acho meio bobo quando fala e deseja outras mulheres. Com um pouco mais de vivência que você, hoje eu sei que amar com amor não é algo rotineiro, é raro, precioso e, como tal, tem que ser preservado.

Não amor, não estou me queixando. Você me preserva, eu sei... Ou pelo menos gosta e pretende me manter por perto, mesmo eu sendo assim "maluquinha" como você diz... Mesmo eu me atirando na piscina vazia... Mesmo eu falando mal de você na frente dos demais, e na sua frente inclusive.

É defesa amor, preciso me defender de você, do arrebato que sua presença me provoca. Mas quando estamos sós eu baixo a guarda, fico bem mulherzinha, daquele jeito... Para!!! Você sabe de que jeito... Do jeito que você gosta.

Vai começar de novo? Você não cansa amor... Eu gosto assim... Isso... Me beija...

(...)

Soninho agora... Amor, apaga a luz quando sair? Te amo, vai com cuidado.


quarta-feira, 21 de abril de 2010

Música de Hoje: I will survive (Glória Gaynor)

At first, I was afraid, I was petrified.
Kept thinkin' I could never live
Without you by my side,
But then I spent so many nights
Thinkin' how you did me wrong.
And I grew strong
And I learned how to get along.

And so you're back from outer space.
I just walked in to find you here
With that sad look upon your face.
I should've changed that stupid lock,
I should've made you leave your key,
If I had known, for just one second,
You’d be back to bother me.

Well, now go! Walk out the door!
Just turn around now,
'Cause you're not welcome anymore!
Weren't you the one
Who tried to hurt me with goodbye?
Did you think I'd crumble?
Did you think I'd lay down and die?

Oh no, not I! I will survive!
Oh, as long as I know how to love,
I know I'll stay alive!
I've got all my life to live.
I've got all my love to give.
And I’ll survive! I will survive!
Hey, Hey!

It took all the strength I had
Not to fall apart
And trying hard to mend the pieces
Of my broken heart.

And I spent, oh, so many nights
Just feeling sorry for myself.
I used to cry,
But now I hold my head up high!

And you'll see me, somebody new,
I’m not that chained up little person
Still in love with you.

And so you felt like droppin' in
And just expect me to be free,
But now I'm savin' all my lovin'
For someone who's lovin' me!

Go now! Go! Walk out the door!
Just turn around now!
'Cause you're not welcome anymore!
Weren't you the one
Who tried to break me with goodbye?
Did you think I'd crumble?
Did you think I'd lay down and die?

Oh no, not I! I will survive!
Oh, as long as I know how to love
I know I'll stay alive!
I've got all my life to live.
I've got all my love to give.
And I'll survive. I will survive! Oohh..

Go now! Go! Walk out the door!
Just turn around now!
'Cause you're not welcome anymore!
Weren't you the one
Who tried to break me with goodbye?
Did you think I'd crumble?
Did you think I'd lay down and die?

Oh no, not I! I will survive!
Oh, as long as I know how to love
I know I'll stay alive!
And I've got all my life to live.
And I've got all my love to give.
And I'll survive. I will survive! I will survive!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Em pedaços...


Nao iria postar hoje. Seria só a música. Mas a finalidade desse blog sempre foi a de tirar as coisas de dentro da minha alma e colocar em algum lugar onde nao me sufocassem.

Aqui minhas alegrias, tristezas, angustias, minha solidão, tudo se transforma em apenas palavras.

Estou descrente hoje.

Nao consigo entender o porque algumas pessoas agem de forma tao irresponsável com o sentimento das outras. Eu acho que já disse aqui que sou do tipo que se joga de cabeça. Quando me dou a alguem entrego o coração em uma bandeja. E é tao raro que alguem disponibilize o coração assim... E tem gente que nao sabe o que fazer diante disso... Corta em pedacinhos o coração disponibilizado e come. E depois esquece até mesmo que sabor tinha aquela emoção em pedacinhos.

Sinto aquele cansaço de alma outra vez. Vontade de parar a vida para descansar um pouco. Eu sinto demais, sentir cansa, sentir é pesado... É rock'n roll puro.

Ainda tenho mais coração pra dar? Queria nao ter. Viver friamente para as coisas práticas. Mas, infelizmente - ou felizmente -, sou do tipo coração infinito para toda vida. Coração da cabeça aos pés, por assim dizer.

Espero encontrar ainda aquele que, vendo o coração ali, batendo forte e apetitoso na bandeja, nao pense em estilhaça-lo em pedacinhos e comê-lo. Que ignore a gula e enxergue alí o amor, e isso nele gere amor também.

Sou uma romântica. E estou numa TPM que me deixa dramática.

Me perdoem se carreguei nos tons de vermelho, era a cor que eu tinha para hoje.

Música de Hoje: Beijo Partido (Toninho Horta)

Sabe, eu não faço fé nessa minha loucura
E digo eu não gosto de quem me arruína em pedaços
E Deus é quem sabe de ti
E eu não mereço um beijo partido
Hoje não passa de um dia perdido no tempo
E fico longe de tudo o que sei
Não se fala mais nisso
Eu sei, eu serei pra você o que não me importa saber
Hoje não passo de um vaso quebrado no peito
E grito olha o beijo partido
Onde estará a rainha
Que a lucidez escondeu, escondeu..

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Nina Simone Don't Explain

Era 21 de abril e chovia...

Nao deveria... Mas nesse início de madrugada sinto uma falta imensa do que você um dia foi pra mim... Você nunca gostou das músicas que eu ouvia, mas gostaria de colocar para você ouvir agora Don´t explain, de Billie Holliday. Certamente você nada entenderia... Mas me dói tao fundo, que se você pudesse, por um só minuto, me olhar nos olhos, entenderia. Entenderia que a perda do que um dia existiu em nós é irrecuperável. Nao te quero de volta, nem quero explicações que um dia me foram fundamentais e que hoje nao me ajudam em nada... Só queria poder sentir outra vez. Talvez um dia, essa dor dê lugar outra vez ao amor. Mas, por hora, don´t explain, don´t you know, you´re my joy and my pain, my life is yours love... Don´t explain.


terça-feira, 13 de abril de 2010

Procura-se um amor para sempre.


Estava conversando com uma amiga sobre o homem que quero pra mim hoje. Ela me disse algo interessante: você nao quer um homem, quer um mutante! Rimos muito disso mas, em realidade, todas buscamos nos homens coisas sabidamente impossíveis de conciliar.

Gostaria, por exemplo, que o meu homem esperado tivesse o corpo jovem de 25 anos e a cabeça e espírito de um de 40. Tenho tido dificuldade em relacionamentos com homens de idade muito diferente da minha. Os mais novos trazem consigo a disposiçao, o corpo firme, a alegria do compromisso com a vida... Mas trazem também a imaturidade emocional, a incapacidade de envolvimento real, aquela irritante presunçao de se acharem donos da verdade, do mundo e dos próprios sentimentos, aquela gula por tudo e por todas. Me cansam, irritam e mantem num estado de ansiedade indesejável e que, aliás, engorda.

Os mais velhos trazem a vantajosa experiência, já admiram a mulher como algo especial em suas vidas, entretanto, trazem também a diminuiçao do vigor físico e, pra falar bem a verdade, muitos deles, mantêm a histórica gula por tudo e por todas.

Meu homem desejado adora música, lê muito, escreve corretamente. Adora viajar.Gosta de praia, de criança. Fala baixo e mesmo assim sabe ser incisivo. É forte, corajoso. E nao faz sempre, mas sempre que pode me abre a porta do carro, carrega minhas sacolas, me da passagem. Que se dane o feminismo e viva às diferenças entre homens e mulheres. Quero mesmo é um cavalheiro.

Ele se excita ouvindo Stripped, do Depeche Mode. Sim, ele sabe o que é Depeche Mode. Ele sabe que quando ponho pra tocar quero seduzi-lo.

Gosta de futebol só na Copa do Mundo. Jamais me deixaria sozinha às quartas, sábados e domingos.

O homem que eu quero, meu homem desejado, já viveu muito e já nao tem necessidade de sair experimentando todas as mulheres. Entende que se fez a escolha de estar com uma só mulher é porque ela é importante suficiente para que ele abdique das demais.

É verdade Deni, o homem dos meus sonhos é um mutante. Mas que fazer? Preciso sonhar, ainda que seja esse sonho de ficção científica.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Música de Hoje: Futuros Amantes - Chico Buarque de Holanda

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos


Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização


Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

Futuros Amantes - Recordações de 01.04.96


Escrevi esse texto em 01.04.1996. Era uma redação para o cursinho pré-vestibular. Minha mãe guardou com carinho e passo agora do papel amarelado para esse louco mundo digital. Suprimi um parágrafo que me pareceu deveras piegas com os olhos de hoje. Mas de resto é a essência e o estilo. Prefiro o que escrevo hoje. Submeto a vocês.

Futuros Amantes

Ele é em minha vida a personificação das coisas perfeitas. É o calor do desejo, é a paz do amor sereno, é a voz que mais gosto de ouvir, é o toque que meu corpo agradece. Este homem vem ao meu encontro quando quero, em prosa, em verso, em canção. É por ele que meu sangue ferve nas veias e o meu corpo estremece.

Meu amor não se contenta com o amor que lhe dou, o acha cotidiano demais. Diverte-se entre Lígias, Bárbaras, Luízas, Angélicas , Marietas, Joanas Francesas e Anas de Amsterdã. E o mais incrível é que gosto de ouví-lo falar de todas elas. E fico em silêncio, e sinto que morro, e sinto novamente que vivo. Sei que, quando vem a mim, é só meu, vagabundo, malandro, mas só meu.

Neste momento, ele está junto a mim, sinto seu corpo, toco seu rosto, sua boca. Ele sorri. O brilho daqueles olhos vem me matar de amor. Peço a ele que me abrace, e, numa pureza de contos de fadas, nos amamos com a intensidade de dois amantes que há muito não se viam e que desatinaram com a distância.

(...)

Já vivemos muitas coisas juntos, e a cada dia mais me convenço da sua imortalidade. Presente em todos os meus momentos, Francisco Buarque de Holanda sempre será o meu eterno amante. Nego ser sua fã, sou uma amante; não o idolatro, o amo. Sou alguém que, mesmo invisível, o acompanhará até o fim. E fim é uma palavra estranha aos imortais.

segunda-feira, 29 de março de 2010

O Amor e o Amor Carnal


Fiquei pensando em como escrever sobre isso sem que parecesse uma declaração de amor. Não se trata disso, embora não deixe de sê-lo.

Daí lembrei de Chico Buarque de Holanda, minha paixão de adolescência que me seduz até hoje. Quando fazia cursinho pre vestibular fui instada por meu professor Israel a fazer uma redação cujo tema era uma declaração de amor.

Assim como hoje, naquela época, eu nao tinha um amor real (existe isso mesmo de amor real? - os meus parecem sempre surreais!) e a minha declaração de amor foi a Chico Buarque. Ainda vou postar aqui a dita redação, minha mãe, coruja como até hoje, guardou cópia do módulo onde saiu publicada, eleita como a melhor da turma!

Veio à minha cabeça então a música "O Meu Amor", que data do ano em que nasci, e me parece tão atual quanto a noite passada.

Conjunção carnal, me perdoem o termo "jurídico". É feio, mas adequado ao que quero dizer. Ainda que nao haja amor, esse momento em que se encontram os corpos dos amantes, o momento da conjunção carnal, é sempre carregado de uma energia de comunhão. Ao menos para mim é.

O homem da música "O Meu Amor" bem poderia ser ele, o que depois brinca comigo ri do meu umbigo e me crava os dentes. O homem que me beija com calma e fundo até minha alma se sentir beijada, rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos com tantos segredos lindos e indecentes.

O amor da música "O Meu Amor" é carnal, como o dele. E aquele momento, de pousar as coxas entre as minhas coxas quando ele se deita, é tao intenso, tao bonito, que nao pode ser chamado de outra coisa que nao amor.

Permito, por amor, que desfrute do meu corpo como se meu corpo fosse a sua casa.

E é só isso. E é tudo isso. Não há futuro. Não há promessas. Mas não se pode dizer que não haja amor. Me recuso a pensar que o amor, um sentimento tão amplo, se revista apenas de uma única forma, a forma mais convencional.

Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz. E é só isso, e é tudo isso.

Música de Hoje: O meu amor - Chico Buarque de Holanda

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada,
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes, ai
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba malfeita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita,
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
E me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

quarta-feira, 17 de março de 2010

Clarice Lispector In Água Viva


Nao, nao se trata de crise criativa. Nao desta vez. É que já disseram por mim. Aliás, Clarice quase sempre diz por mim.

Água viva é especial, visceral, de momento de instrospecçao no sentido de mergulhar dentro de si mesmo e conhecer cada entranha...

Deixo que Clarice diga o que eu quis dizer sobre o que vi aqui dentro. Os homens que me desculpem, meu amigo virtual Guima inclusive - que adora e leu tudo de Clarice - , mas Clarice é sentimento feminino puro.

Acredito inclusive que muitas vezes é aquele estado alterado de consciência que precede à menstruação, no qual muitas vezes saímos de dentro e nos olhamos de fora. E as vezes ficamos perdidas, confusas, nao gostamos do que vemos. Voltamos pra dentro, e então, nos perdemos ainda mais.

Sim, estado alterado de consciência. Nao há outro nome para isso.

Deixo que Clarice diga.

"Fiquei de repente tão aflita que sou capaz de dizer agora fim e acabar o que te escrevo, é mais na base de palavras cegas. Mesmo para os descrentes há o instante do desespero que é divino: a ausência do Deus é um ato de religião. Neste mesmo instante estou pedindo ao Deus que me ajude. Estou precisando.

Precisando mais do que a força humana. Sou forte mas também destrutiva. O Deus tem que vir a mim já que não tenho ido a Ele. Que o Deus venha: por favor. Mesmo que eu não mereça. Venha. Ou talvez os que menos merecem mais precisem. Sou inquieta e áspera e desesperançada. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor. Às vezes me arranha como se fossem farpas. Se tanto amor dentro de mim recebi e no entanto continuo inquieta é porque preciso que o Deus venha. Venha antes que seja tarde demais. Corro perigo como toda pessoa que vive. E a única coisa que me espera é exatamente o inesperado. Mas sei que terei paz antes da morte e que experimentarei um dia o delicado da vida. Perceberei - assim como se come e se vive o gosto da comida. Minha voz cai no abismo de teu silêncio. Tu me lês em silêncio. Mas nesse ilimitado campo mudo desdobro as asas, livre para viver. Então aceito o pior e entro no âmago da morte e para isto estou viva. O âmago sensível."

C. Lispector, In Água Viva