segunda-feira, 12 de julho de 2010

Certa Manha Acordei De Sonhos Intranqüilos - Sentimentos sobre o novo CD de Otto

Foi inevitável pra mim desejar escrever depois de ouvir seguidamente quatro vezes esta manha o CD do pernambucano Otto.
Faz algum tempo algo novo nao me agradava e emocionava tanto na música brasileira. N
ã
o tenho aqui nenhuma pretens
ã
o de fazer uma crítica ao CD e suas faixas. Conta apenas o meu sentimento e a decis
ã
o que tomei depois da quarta audiç
ã
o.
Já começa pelo nome do CD, toma emprestado primeira frase do livro A Metamorfose de Kafka.
A primeira faixa, Crua, é a traduç
ã
o da decepç
ã
o, do fim, há sempre um lado que pesa e outro lado que flutua e continua cruamente a descrever a solidão do fim quando dificilmente se arranca a lembrança de que naquela noite que eu chamei você fudia de noite e de dia, da traiçao, melancólica. Saí cortada, fatiada pelas cordas da introduç
ã
o, rasgada, sangrando.
Na faixa seguinte, Leite, na companhia deliciosa da voz de Céu, a certeza em lamento de que n
ã
o poderia ter dado certo quando diz: quando eu perdi você ganhei a aposta. E outra vez a desilus
ã
o quando num dia assim calado você me mostrou a vida e agora vem dizer pra mim que é despedida. E traduz ainda perfeitamente o sentimento daquele que foi deixado acreditando deixar, quando eu sai da tua vida bati a porta, sai morrendo de medo do desejo de ficar. Fui embora porque era a única coisa digna a se fazer, embora quisesse imensamente ficar.
A quinta faixa, 6 minutos, minha música do dia, traz mais desilusão e luto, com as flores crescendo no canto do quarto escuro, flores de um longo inverno. A tristeza dos sonhos n
ã
o realizados... Isso é pra morrer. Mas como você pode ter ido embora se você me falou de uma casa pequena com uma varanda chamando as crianças pra jantar. Isso é pra viver. Esse trecho, especificamente, me tocou fundo... Só faltou o cachorro correndo no jardim, meu ideal de felicidade.
Na frente do cortejo o meu beijo (...) lágrimas negras saem, caem, doem. Inicia Lágrimas Negras, com Julieta Venegas cantando em português. Sensível, o cortejo de despedida do amor, tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento. E a tristeza de Otto nos rendeu a beleza dessa canç
ã
o, beleza acesa, a flor da pele.
Filha, é outra bela canç
ã
o. Triste e emocionante como as demais. Aqui há paz e alegria, antes que você perceba que n
ã
o deu nao deu n
ã
o deu (...) Aqui é festa amor, e a tristeza em minha vida.
Na verdade, você nuca existiu, nunca passou de uma ilusão. E até pra morrer, você tem que existir. E se não existia, decisão incontestável que tomo, acabou-se o luto. Queimarei hoje os vestidos negros, os véus de viuva. É mais que hora de roupas coloridas, de alegria, das flores que vir
ã
o das maos de um novo amor e não nascerão como limo no canto de um quarto escuro.
Pode chegar meu novo amor, estou te esperando. Arrumei a casa, abri todas as janelas e mandei embora a tristeza que morava comigo. Está tudo pronto, na última faixa Agora Sim
, o amor vai me encontrar, vou te levar na praça um dia vai chover muita paz e esmeraldas em cima de você.
Quem disse que o amor n
ã
o vai? Imagem lúdica, passada em preto e branco em minha cabeça.
Enfim, obrigada Otto, pela bela obra. Espero que você, como eu, também possa abandonar o luto e deixar o amor entrar.

4 comentários:

  1. karen,

    sem dúvida alguma, um belo disco. já passei vários dias ouvindo...

    o amor vai entrar - rs

    bj

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  2. Amigo Buenas,

    De verdade, um belo disco. Me encantou... Chorei, ri... Precisava escrever.

    Um beijo!

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  3. Querida, cá estou de novo, sempre correndo...Sou fã do Otto e já estive com ele em uma das edições do Abril pró-rock em Recife. Comprei o disco assim q saiu e é um dos melhores do ano...
    Beijão,

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  4. Amigo Guima,

    É sim, o disco me encantou bastante. É de uma intensidade deliciosa. Saudades de saber de você.

    Beijos!

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