quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Solidao... É como estar doente numa folia...


Sei que o título parece melodramático... Mas o que posso fazer? Prometi nao fugir de mim nesse blog, e hoje estou assim, melodramática. Estou doente, desde ontem. Nada sério, mas bastante incômodo... Complicações respiratórias... Me senti muito mal hoje no final da tarde e depois de muita auto medicação - confesso - decidi sair do trabalho, onde passei o dia me arrastando, e fui ao Hospital mais próximo.

Nao podia respirar, a cabeça doía e o resto do corpo também. Um colega me acompanhou até lá, mas depois de uns minutos esperando na recepção ele teve que ir embora. E aí começa o melodrama da solidão.

Me internaram... E foram longas 4 horas refletindo sobre o quanto estou imensamente sozinha nesse mundo. Foi inevitável olhar para as macas ao lado e ver que todos tinham um acompanhante menos eu.

Melhor esclarecer, nao é que eu seja uma pessoa anti social, detestável, ou que nao tenha amigos, ou família ou amor. Tenho sim, poucos e bons... . amigos, familiares e amores. Mas hoje, estive imensamente sozinha.

Podia ter pedido a companhia de um deles, mas nao o fiz. Preferi ficar alí, em observação da minha solidão.

Como precaução, deixei a cortina aberta para que as outras pessoas me vissem. Tenho a impressão as vezes de que as pessoas sozinhas ficam invisíveis. E disso eu tive medo.

Já tive um dia alguém a meu lado... Alguém que eu sentia que era uma extensao de meu corpo, nunca me sentia sozinha... Mas também foi difícil aprender a andar sem ele.

Hoje eu sei.

Talvez por isso, hoje contemplei a solidao... Doente numa folia.

Nao acredito que isso possa interessar a alguém. A contemplaçao egoista da minha solidão. Mas acho que precisava me escrever isso.

Me sinto melhor. Tudo já passa.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A Cor do Desejo - O CD Novo de Ney Matogrosso - Parte II

O CD se chama Beijo Bandido... está bem bonito e à exceçao de Nada Por Mim, que nao me agradou muito, a seleçao do repertório foi bem gostosa. Me encantou sobretudo a cançao A Cor do Desejo, nao conheço os autores, a letra é tocante e a interpretaçao está de arrepiar:

A COR DO DESEJO
Júnior Almeida e Ricardo Guima

A tua boca anda oca
Da minha língua
da minha língua
A minha língua anda à míngua
Sem tua boca
sem tua boca

Exatos são os teus olhos que invadem
E me revelam teu coração
Exata é a cor do teu deserto
A dor do teu deserto
Exatos são teus beijos que me acertam
E a ti revelam meu coração
Exata é a cor do teu desejo
A dor do teu desejo

O CD novo do Ney Matogrosso

Adoro... Estou ouvindo agora, com uma sensação estranha no coração... Um pouco feliz, um pouco nostálgica... Mas gosto da música, da elegancia do som da sua voz... Penso na outra voz que ouvi agora a pouco. Penso nos bons momentos que temos na vida, e nas oportunidades que as vezes perdemos (perdemos?) na vida.
Hora de recomeçar.
Ah, amo meus amigos, disse isso hoje a cada um deles, os que encontrei, acompanhado de um forte abraço. Fez mais bem a mim que a eles, eu acho.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O Anticristo de Lars Von Trier - A culpa é da mulher?..


Assisti há uma semana o filme O Anticristo, de Lars Von Trier. Já li muitas críticas sobre, desde os que sairam do cinema no meio do filme, os que sentiram nauseas, os que apedrejaram o diretor,os que consideraram gratuitos o sexo e a violencia de algumas cenas, aos que aplaudiram de pé...

Alguns dizem que Lars Von Trier expressou nesse filme toda a sua misoginia, equiparando a mulher ao mal.

Bom, nao vejo assim... Acho que a mulher, em toda a sua complexidade, tem muito do bem e do mal... E sim, acho bem apropriada a analogia feita entre a natureza da mulher e as forças da natureza, ou melhor, o mal que vem da natureza.

Achei fantástica a cena da estrada, na qual o casal, destroçado após a morte do filho, está chegando a Éden, aqui, paraíso invertido, e a floresta parece engolir tudo ao redor, tragar os personagens. Como o sexo da mulher - fêmea do gafanhoto - engole o homem, até a morte no orgasmo.

A culpa que a mulher traz dos conceitos católicos, o pecado original, culmina com a cena em que a mulher, representada por Charlotte Gainsbourg, mutila o próprio clitóris com uma tesoura. Tudo mostrado de forma seca, dolorosa, aviltante, mesmo estando dentro do conceito. Ao seu lado, os três reis magos: a raposa, o corvo e o cervo reunidos ao inverso, no momento em que alguém tinha que morrer, e não nascer.

Linda também a primeira cena... Em qualquer momento, e imagino que para toda a vida, quando escute aquela canção - ária Lascia qu’Io Pianga, da ópera Rinaldo, de Handel -, me virão as imagens em preto e branco, em slow motion, e uma dor profunda no peito.

Me senti incomodada muitas vezes durante o filme... E foi maravilhoso estar incomodada. Fazia tanto tempo que um filme nao me incomodava tanto. A anestesia é muito triste, quero continuar me emocionando, para o bem ou para o mal.

Voltando à natureza da mulher... O filme é recheado de simbologias, e uma delas é a questão de as mulheres terem sido consideradas bruxas muitas vezes na história, pelo simples fato de serem mulheres. Acho que somos mesmo um pouco bruxas... E me lembro agora de uma passagem de Hamlet, que merece um post a parte, prometo para depois. Diálogo entre Hamlet e Ofélia, sobre a beleza e a honestidade. E sobre o fato das mulheres simularem, dissimularem... Deus lhe da uma face e ela faz outra. Comentarei depois, mas não discordo... Me acho meio bruxa as vezes... E gosto do olhar de bobo diante do feitiço... Rs Sou uma mulher bem típica.

Amei o tratamento dado às imagens... Adorei as cores, empalidecidas, a trilha sonora.

Outra cena. O marido, desesperado diante do surto da mulher, foge para a floresta
e alí se esconde num buraco sob as raízes de uma árvore. A mulher lhe arranca dalí, a golpes, escavando a terra... Como em um parto tortuoso o expulsa do útero, e segue o sofrimento.

Achei o filme fantástico. Uma obra de arte incomum, fruto de uma mente certamente atormentada, mas nem por isso menos brilhante.

A cançao de hoje...

Uns versos
(Adriana Calcanhoto)

Sou sua noite, sou seu quarto
Se você quiser dormir
Eu me despeço
Eu em pedaços
Como um silêncio ao contrário
Enquanto espero
Escrevo uns versos
Depois rasgo

Sou seu fado, sou seu bardo
Se você quiser ouvir
O seu eunuco, o seu soprano
Um seu arauto
Eu sou o sol da sua noite em claro,
Um rádio
Eu sou pelo avesso sua pele
O seu casaco

Se você vai sair
O seu asfalto
Se você vai sair
Eu chovo
Sobre o seu cabelo pelo seu itinerário
Sou eu o seu paradeiro
Em uns versos que eu escrevo
Depois rasgo

Despertar...

Faz tempo que pensava em escrever um blog. Nao simplesmente para publicizar às outras pessoas o que passa pela minha cabeça, mas como uma forma de organizar o turbilhao de coisas que todos os dias passam por ela. Algumas destas coisas gostaria de guardar para sempre e, escrever, paixao antiga, talvez seja uma boa forma de eternizar outras paixões: as que quero lembrar.

Sobre paixões... Acho que esse será um blog sobre paixões.

Me inspirou ou encorajou a escreve-lo visitar hoje pela manha os blogs de um amigo... Nao sei se posso chama-lo assim, ainda. Tarcísio. Personagem antiga da minha infância/adolescência e que de uns dias para cá se materializou como algo diferente e impensado para mim. Falávamos ontem sobre a sensaçao de inalcansabilidade.

Li seu blog, la verga del buenas... Um blog de poesias eróticas... Mas, mais que erotismo, que me tocaria o corpo, ler o que ele escreve me tocou a alma. Me deu vontade de ouvir Chet Baker novamente... Fazia tempo que estava sem uso o CD Let´s Get Lost, e lembro que muitas vezes, há uns 7 anos atrás, chegava em casa no final da tarde, nao acendia as luzes, e trazia Chet para a sala comigo, só nós esperando a noite cair, sentindo com os pés o piso frio e esvaziando a cabeça das imagens do dia. E Neruda, somente tu e eu, somente tu e eu, amor meu, escutamos...

Deu vontade de ler poesia, de revisitar Neruda... De rever minha família... Caminhei por dentro da cabeça nas ruas de Cruz das Almas, final de tarde, os meninos com o violao, tocando na calçada... Meu primeiro violao, Fabrício (por onde anda você?) tocando um pouquinho... Nunca aprendi a tocar... Mas sempre senti tanto a música...

Hoje sou outra... Mas aquela ainda vive em mim. Tímida, calada, com a sensaçao de inalcansabilidade.

Ao revés, esta manha, eu sinto que posso tudo.