
Assisti há uma semana o filme O Anticristo, de Lars Von Trier. Já li muitas críticas sobre, desde os que sairam do cinema no meio do filme, os que sentiram nauseas, os que apedrejaram o diretor,os que consideraram gratuitos o sexo e a violencia de algumas cenas, aos que aplaudiram de pé...
Alguns dizem que Lars Von Trier expressou nesse filme toda a sua misoginia, equiparando a mulher ao mal.
Bom, nao vejo assim... Acho que a mulher, em toda a sua complexidade, tem muito do bem e do mal... E sim, acho bem apropriada a analogia feita entre a natureza da mulher e as forças da natureza, ou melhor, o mal que vem da natureza.
Achei fantástica a cena da estrada, na qual o casal, destroçado após a morte do filho, está chegando a Éden, aqui, paraíso invertido, e a floresta parece engolir tudo ao redor, tragar os personagens. Como o sexo da mulher - fêmea do gafanhoto - engole o homem, até a morte no orgasmo.
A culpa que a mulher traz dos conceitos católicos, o pecado original, culmina com a cena em que a mulher, representada por Charlotte Gainsbourg, mutila o próprio clitóris com uma tesoura. Tudo mostrado de forma seca, dolorosa, aviltante, mesmo estando dentro do conceito. Ao seu lado, os três reis magos: a raposa, o corvo e o cervo reunidos ao inverso, no momento em que alguém tinha que morrer, e não nascer.
Linda também a primeira cena... Em qualquer momento, e imagino que para toda a vida, quando escute aquela canção - ária Lascia qu’Io Pianga, da ópera Rinaldo, de Handel -, me virão as imagens em preto e branco, em slow motion, e uma dor profunda no peito.
Me senti incomodada muitas vezes durante o filme... E foi maravilhoso estar incomodada. Fazia tanto tempo que um filme nao me incomodava tanto. A anestesia é muito triste, quero continuar me emocionando, para o bem ou para o mal.
Voltando à natureza da mulher... O filme é recheado de simbologias, e uma delas é a questão de as mulheres terem sido consideradas bruxas muitas vezes na história, pelo simples fato de serem mulheres. Acho que somos mesmo um pouco bruxas... E me lembro agora de uma passagem de Hamlet, que merece um post a parte, prometo para depois. Diálogo entre Hamlet e Ofélia, sobre a beleza e a honestidade. E sobre o fato das mulheres simularem, dissimularem... Deus lhe da uma face e ela faz outra. Comentarei depois, mas não discordo... Me acho meio bruxa as vezes... E gosto do olhar de bobo diante do feitiço... Rs Sou uma mulher bem típica.
Amei o tratamento dado às imagens... Adorei as cores, empalidecidas, a trilha sonora.
Outra cena. O marido, desesperado diante do surto da mulher, foge para a floresta
e alí se esconde num buraco sob as raízes de uma árvore. A mulher lhe arranca dalí, a golpes, escavando a terra... Como em um parto tortuoso o expulsa do útero, e segue o sofrimento.
Achei o filme fantástico. Uma obra de arte incomum, fruto de uma mente certamente atormentada, mas nem por isso menos brilhante.
karine, um amigo meu, me indicou este filme. agora, depois de ler este post, fiquei mais curioso ainda.
ResponderExcluirbj
Um belo filme.
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