sexta-feira, 27 de abril de 2012

Música de hoje: Adoração (Filipe Catto)









Isso é uma outra coisa, pra falar depois.


Pele que é pele não mente, não esconde, não dissimularia...

Quando bulling era só uma gozação.


Hoje umas amigas, com as quais tenho treinado na academia, me convidaram pra um jogo de “baleado” na próxima semana e isso me trouxe diversas recordações.
Pra quem não sabe, “baleado” ou “baleô”, como conheci na minha infância, é um jogo dividido em duas equipes de não me lembro quantos, nos quais uns tentam acertar a bola nos outros e aquele que for acertado é eliminado do jogo.
Nada demais até então, eu e essas amigas, sobre as quais ainda falarei aqui, porque têm sido uma parte importante dos meus dias atuais, temos marcado atividades diferenciadas para estimular a prática de atividade física, como a corrida na areia, os circuitos e o próprio treino de musculação em grupo, tentando fazer da nossa rotina mais leve e estimulante.
Somos bem diferentes, eu sou a mais velha do grupo, bem mais velha, aliás. Mas isso é assunto para outro post. O que importa é que nos gostamos e creio que está sendo bom para todas nosso convívio.
Voltando ao convite para o “baleado”, recusei de imediato. Na verdade, baleado especificamente e, em geral, qualquer tipo de esporte com bola, é um tabu pra mim desde a infância. Eu era aquela criança gordinha, da perna torta e cabelo de pandeiro que ninguém queria no time de baleado. Sempre a última a ser escolhida, sob protestos da equipe para quem eu “sobrava”, era sempre a primeira a ser “baleada”, e saia chorando, sob a “gozação” geral das minhas colegas.
Isso era quando bulling ainda não era bulling, era só “gozação” mesmo e ninguém pegava uma arma no outro dia e matava as coleguinhas de sala, embora talvez, quem sabe, tenha sonhado com isso um dia. Brincadeira. Ou não... Como diria Caetano.
Para agravar minha situação, minha mãe, sobre a qual já falei aqui sempre com muito amor e devoção – porque é uma mãe maravilhosa, antes que ela se magoe com o que vou dizer -, foi criada no sertão brincando com ossinhos de mocotó, e não tinha lá muito jeito com filha mulher.
Explico. Enquanto minha amiga Verena ia pra escola de melissinha, cabelos lisos amarrados com fitinhas no melhor estilo princesa, eu usava um kichute preto – procurem no Google os mais jovens e vão entender o meu drama – uns dois números maior que meu pé, com um cadarço que dava umas três voltas no tornozelo. Triste de se ver numa menininha.
Tinha ainda umas camisas horrendas de linho, manga curta e botão, bordadas, que ela comprava igual para ela e para mim. Somado a isso, eu era gordinha, como já disse, e o cabelo estilo “menudo” ou “poodle” era cortado em camadas, compondo o visual inadequado. Tenho duas fotos inacreditáveis dessa época. Não, ainda não queimei, acho engraçado hoje.
Enquanto lembrava disso, e achava graça, lembrei também que quem mais praticava a tal gozação contra mim eram as meninas que eu mais gostava, minhas amiguinhas. Ou talvez eu só lembre delas, porque quando alguém que a gente ama machuca a gente é mais difícil de esquecer.
O problema é que muitas vezes, até na infância, a gente ama sozinho. Me dei conta que não me lembro dessas meninas freqüentarem minha casa na época, me lembro de ter ido algumas vezes na casa delas. Acho que eu era amiga delas, mas elas nunca foram minhas amigas.
Tinha ainda minhas primas mais velhas, a quem eu amava com devoção. Tão magras, lindas e espertas. Uma delas ela era a melhor no baleado, jogava gude tão bem quanto um menino e até no futebol ela arrasava.
A outra, tão bonita, inteligente e doce! Fazia uns desenhos a lápis incríveis e o que me lembro é que meus avós a amavam tanto! Meu avô, que sempre foi tão distante de mim, a tratava como uma boneca, com todas as preferências.
Até o pai delas eu tomava um pouco emprestado, já que não tive pai. Elas tinham assinatura da Capricho! Isso era o máximo na época. E todas aquelas fotos do New Kids On The Block? Na casa delas passava a MTV! Vale dizer que volta e meia elas me gozavam também, eu não esqueci, mas não me importava, elas eram minhas heroínas.
Crescemos juntas, bastante juntas, e em algum momento, numa dessas bifurcações inexplicáveis no caminho, nos separamos e cada uma seguiu sua vida, em caminhos tão diametralmente opostos que hoje é até um pouco embaraçoso o encontro, quase constrangedor. Não temos assunto.
Enfim, não vou jogar baleado na próxima quinta com minhas novas amigas. Não superei ainda o trauma de receber uma bolada das pessoas que eu amo, mas não é nada grave, eu acho. Fica para a próxima.