domingo, 13 de junho de 2010

Sobre a Música de Hoje: Negro Amor (It´s all over now, baby blue)


Versão: Caetano Veloso
Original: Bob Dylan

Vá, se mande, junte tudo que você puder levar
Ande, tudo que parece seu é bom que agarre já
Seu filho feio e louco ficou só
Chorando feito fogo à luz do sol
Os alquimistas já estão no corredor
E não tem mais nada, negro amor
A estrada pra você e o jogo e a indecência
Junte tudo que você conseguiu por coincidência
E o pintor de rua que anda só
Desenha a maluquice em seu lençol
Sob seus pés o céu também rachou
E não tem mais nada, negro amor
Seus marinheiros mareados abandonam o mar
Seus guerreiros desarmados não vão mais lutar
Seu namorado já vai dando o fora
Levando os cobertores, e agora?
Até o tapete sem você voou
E não tem mais nada, negro amor
As pedras do caminho, deixe para trás
Esqueça os mortos que eles não levantam mais
O vagabundo esmola pela rua
Vestindo a mesma roupa que foi sua
Risque outro fósforo, outra vida, outra luz, outra cor
E não tem mais nada, negro amor

Posso dizer que conheço essa música desde antes de nascer. Por volta dos meus 13 ou 14 anos, na minha hoje fria Cruz das Almas, fui a um show na Casa da Cultura da cidade, local que me traz além desta, outras doces recordações. Se apresentava alí a banda Cabaré Neopatético, e Graça Sena entoava de maneira peculiar, rasgada e deliciosa essa canção. Enchia o ambiente da antiga Casa de Detenção o cheiro perfumado do jasmim que crescia por sobre a grade que dava para o pátio e o som, àquela altura, para mim, do alto da minha adolescência, revolucionário e libertador.

Tanto a interpretação, instrumentada por Nelson Magalhães e Beto, quanto a letra da canção, me provocaram imediato arrebato. Estranhava a sensaçao de já conhecer de há muito a melodia e, inclusive, podia cantarolar alguns versos.

No dia seguinte, ainda encantada pelo que ouvira na noite anterior, cantarolava a mesma canção em casa e minha mãe observou que quando estava grávida de mim, meu pai sumiu de casa sabe-se lá Deus para onde, e que ela ouvia seguidamente a mesma canção, que traduzia seu sentimento naquele momento.

Posso sentir agora o cheiro de jasmim, ver o colorido das telas de Nelson Magalhães, ouvir todos os acordes, e lembrar da cara da minha mãe e do que senti naquele dia. Do meu pai nada, ele não faz parte dessa história.

4 comentários:

  1. eu também assisti um show deles, mas foi no bar de libânia na rua da vitória. foi massa!
    lembro dessa versão na voz de graça. demais. adoro.

    bj

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  2. Fui nesse do Libânia também... Ali foi uma outra história. Um dia conto. Beijos!

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  3. Karine, saudades. Ando ausente, mas não resisti ao "Negro amor" do Caetano. Conheço diversas versões desse clássico do Dylan, mas a q eu considero histórico marcante em minha vida é a versão de Gal, irrepreensível!!
    Bjks,
    Guima

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  4. Essa música é linda demais... e vc descreveu com perfeição, quase que senti o que vc sentiu naquele dia... rssss bjs

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