sábado, 11 de setembro de 2010

Clarice Lispector num sábado a noite - Furacão e Calmaria


Desocupada e sem programa para uma fria e desagradável noite de sábado abri, como em outras tantas noites solitárias, meu twitter, e dei de cara com Clarice. Sempre ela, mesmo em 146 caracteres, abrindo as feridas da minha alma.

A frase dizia:

O medo me leva ao perigo. E tudo que eu amo é arriscado.

Abriu-se a primeira ferida. Era o que eu temia. Não queria mesmo prolongar esse sábado a noite em nada mais que novela das nove falada em italiano macarrônico e uma noite de sono difícil em virtude da gripe que me tem o peito congestionado.

Segui lendo, e veio o golpe fatal, já não podia voltar atrás. Li o que vinha pensando durante os últimos dias. E era tudo tao simples, que me senti tola, tonta. Tonta e com a vaidade ferida. Se não fui eu quem pensou antes, não era privilégio meu a aflição. Falar ou não falar? É sentimento comum, ordinário, tanto quanto pode ser ordinário algo vindo do coraçao de Clarice. Dizia:

"Por te falar eu te assustarei e te perderei? Mas se eu nunca falar eu me perderei, e por me perder eu te perderia." Excerto tirado de A Paixão Segundo GH, um dos meus favoritos.

Era só isso que precisava ser dito, e eu não soube dizer antes. Precisava ser dito por mim para mim. Em alta voz, para que eu sem dúvida escutasse.

Tenho muitas vezes medo da intensidade dos meus sentimentos. Não temo por mim, sou bastante kamikaze nesse aspecto. Mas sim pelo outro, que quase sempre, compreensivelmente, se assusta.

O comedimento é infinitamente mais confortável... Comedimento é brisa leve. Meu sentimento quase sempre é tempestade e muitas vezes furacão. Eu sei antes, me seguro. O outro, pego de surpresa, grita e corre.

Lembrei agora de um desenho animado da Disney... Havia um grande furacão, o pateta, o mickey, o pluto, casas, árvores, vacas e pessoas voando, e música clássica... Acho que nao se fazem mais desenhos com música clássica ao fundo.

O medo de falar é o medo de ouvir e o que sair da boca ser não. É o medo de assustar. O medo de que o outro grite e corra, ao som de música clássica, as vacas voando e o furacão.

Mas se não falo, deixo de ser eu para ser apenas uma peça de um jogo. E eu nao sei jogar. Deixaria de existir e aí sim o outro não me amaria.

O problema está em outra poesia, musicada, "eu não sei dançar tão devagar pra te acompanhar".

Resta acreditar que encontraremos, um dia, um só ritmo. Que ao sentir a proximidade do furacão o outro se abrigue calmamente a meu lado e de maos dadas apreciemos juntos o espetáculo, para gozar, ao final, da calmaria.

2 comentários:

  1. Karine, já estava com saudades...a vida louca vida de sempre não tem me deixado estar mais presente em seu blog. Se passar por aí, vc não pode perder o novo espetáculo da Beth Goulart, com texto de clarice, imperdível!1
    Bjs,

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  2. Guima querido,

    Seja bem vindo outra vez. Senti falta das suas visitas! Estou com muita vontade de ver essa peça sim, espero que chegue a Salvador.

    Beijos!

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