sábado, 2 de abril de 2011

Outono - My baby just cares for me.

Como é possível ter saudade do que nunca se teve?
Como é possível que aquele que está reservado pra mim esteja tão em mim sem nunca haver estado?
E sem nunca haver estado, como é possível que eu sinta agora faltar um pedaço?
O meu outono chegou primavera como em seu hemisfério. Já não há folhas caídas, limpei-as todas. Tampouco há ventania.
Há grama verde, a tão ansiada grama verde. Há flores multicoloridas, calorzinho, brisa amena, crianças correndo no parque. Ouço seus gritinhos de alegria enquanto correm e brincam ao meu redor.
E ele está alí, ao meu alcance. Ainda não o toco, mas o vejo alí, sentado na grama verdinha, na minha grama verdinha.
Ele sorri e está tão feliz quanto eu de que tenha chegado enfim, depois de um longo inverno da alma, a nossa primavera.
Estamos emocionados e nos olhamos detalhadamente, sem pressa. Ainda não nos tocamos, mas é como se já fôssemos tão nossos que é saboroso guardar esse momento de olhar, de aprender nossos gestos, de deixar pra trás a estação passada e receber a nossa, só nossa, primavera.
A brisa cálida nos traz canções de amor que se misturam a seu sabor e nos preparam para o que virá:

"... tout peut s'oublier qui s'enfuit deja. Oublier le temps des malentendus et le temps perdu a savoir comment..."
"quando um coração que está cansado de sofrer / encontra um coração também cansado de sofrer / é tempo de se pensar / que o amor pode de repente chegar"
"My baby don´t cares who knows, my baby just cares for me..."

E é assim, ouvindo Jacques Brel, Tom Jobim e Nina Simone, enfim deitados em nosso tapete, que celebraremos o nosso encontro e sorriremos do inverno, que enfim, terá ido embora.

Ainda espero que ele chegue.